Emiliano Di Cavalcanti nasceu em 1897, no Rio de Janeiro, na casa de José do
Patrocínio, que era casado com uma tia do futuro pintor. Quando seu pai morre
em 1914, Di obriga-se a trabalhar e faz ilustrações para a REVISTA FON FON.
Antes que os trepidantes anos 20 se inaugurem vamos encontrá-lo estudando na
Faculdade de Direito. Em 1917 transferindo-se para São Paulo ingressa na
Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Segue fazendo ilustrações e
começa a pintar. O jovem Di Cavalcanti frequenta o atelier do impressionista
George Elpons e torna-se amigo de Mário e Oswald de Andrade.
Em 1921 casa-se com Maria, filha de um primo-irmão de seu pai. Entre 11 e 18
de fevereiro de 1922 idealiza e organiza a Semana de Arte Moderna no Teatro
Municipal de São Paulo, cria para essa ocasião as promocionais do evento:
catálogo e programa. Faz sua primeira viagem à Europa em 1923, permanecendo
em Paris até 1925. Frequenta a Academia Ranson. Expõe em diversas cidades:
Londres, Berlim, Bruxelas, Amsterdan e Paris. Conhece Picasso, Léger, Matisse, Eric
Satie, Jean Cocteau e outros intelectuais franceses. Retorna ao Brasil em 1926 e
ingressa no Partido Comunista. Segue fazendo ilustrações. Faz nova viagem a paris
e cria os painéis de decoração do Teatro João Caetano no Rio de Janeiro.
Ousado, inquietante e brasileiríssimo...pintava a alma brasileira e fazia da sua arte
a expressão máxima do seu amor pelo país do samba, da mulata, do homem sim-
-ples, do povo alegre, das injustiças sociais e da esperança de um futuro melhor.
Alegria e esperança, maravilhosamente representadas nas linhas e cores das suas
telas. O Mural artístico mais importante de Di Cavalcanti está na região do Vale do
Paraíba, no eixo Rio de Janeiro / São Paulo.
A importância de preservar este patrimônio material está na descrição da história
local, da expressão artística, da forma de pensar e sentir do artista Di Cavalcanti.
O artista produziu nas décadas passadas uma pintura significativa e cheia de cara-
-cterísticas pessoais que hoje faz parte da história do Hotel e principalmente da
história da arte brasileira.
Na parte superior da pintura, a religiosidade do povo e o rio Paraíba serpenteiam
suavemente, como se unissem céu e terra em uma prece silenciosa. A igrejinha
branca com sua cruz ao alto parece vigiar o vilarejo, símbolo de fé e pertencimento.
Mais adiante, os contornos do rio margeiam a vida rural, refletindo a alma tranquila
de quem vive ao seu redor.No centro, a simplicidade e os costumes da nossa gente:
o fim de tarde com bate-papo entre comadres na porta de casa; a lavadeira de
roupas curvada sobre o balde, quase em oração ao trabalho; a mulher da elite,
talvez filha do dono de terras, caminha com pose altiva e vestido bem cortado,
bolsa em punho, contrastando com o chão de terra e o colorido do cotidiano. À
sombra generosa da palmeira, dois violeiros tocam uma moda serena — um dueto
de histórias e emoções. Os chapéus de aba larga e as camisas listradas ecoam a
estética popular que Di Cavalcanti tão bem soube valorizar. Um cachorro dorme
enroscado em si mesmo, mergulhado na doce preguiça de um dia bem vivido.
Perto dali, um pássaro preso numa gaiola sonha o voo que o artista talvez tenha
pintado com liberdade nas cores ao redor.A galinha d’angola cisca com autoridade
no quintal, enquanto o gado aparece imponente, recordando a força econômica
da região. Elementos do campo se misturam à geometria da forma e à vibração das
cores — fortes, vivas, quase musicais — marca registrada do modernismo tropicalista
que Di Cavalcanti abraçou.É assim que o artista enxergava o Vale do Paraíba na
década de 1950: com ternura, crítica sutil e um profundo respeito por sua gente, seus
costumes e sua paisagem. Um retrato simbólico, onde cada traço e cada cor
contam uma história que ainda vive nas memórias e nos dias de quem habita este
pedaço do Brasil.
Título ou tema: Sem título conhecido - temas do vale do paraíba.
Autor: Emiliano Di Cavalcanti (ass. c.i.d. ‘’E. di Cavalcanti 1951'’).
Técnica: Tinta a óleo
Data: 1951
Dimensões: Formato irregular - 390 cm. (alt. lado esquerdo) x 466 cm. (alt. lado direito) x 630 cm. (comprimento).